Matrizes Esparsas no R

Matrizes esparsas são matrizes em que a maior parte dos elementos é igual a zero. Matrizes dessa forma surgem em diversos problemas relacionados a Machine Learning e análise de dados.

Por exemplo, é comum em text mining representar os documentos usando o chamado Bag of Words. Bag of Words nada mais é do que listar as palavras que aparecem em todos os documentos e em seguida criar uma matriz em que cada linha é um documento e cada coluna é uma palavra que foi listada anteriormente. Cada elemento \((i,j)\) desssa matriz é 1 se a palavra \(j\) aparace no documento \(i\) e 0 caso contrário. Naturalmente, o número de palavras que podem aparecer é muito maior do que o número de palavras que de fato aparecem em um documento, por isso a maioria dos elementos dessa matriz será 0.

Matrizes esparsas também aparecem muito em problemas de recomendação. Nesse tipo de aplciação representamos as transações em uma matriz em que cada linha é um cliente e cada coluna um produto que ele poderia ter comprado. Para recomendar filmes no Netflix, por exemplo, cada linha seria um cliente e cada coluna um filme que está no catálogo do Netflix. Em seguida marcaríamos cada elemento \((i,j)\) dessa matriz com 1 se o cliente \(i\) assistiu o filme \(j\) e 0 caso contrário. Como o catálogo de filmes é muito grande, a mairoia dos elementos dessa matriz será 0.

Essa pergunta do Quora tem mais algumas aplicações importantes de matrizes esparsas.

Note que nos problemas que eu mencionei, encontramos dimensões muito altas. O número de palavras distintas em um conjunto de documentos pode facilmente passar de 20.000. O número de filmes no catálogo do netflix pode passar de 100.000. Agora vamos definir uma matriz como esta no R da forma usual. Vou preenchê-la aleatoriamente com 0’s e 1’s, sendo 1’s aproximadamente 1%. Considere que essa matriz seria utilizada em um problema de classificação de textos com 1 milhão de documentos com apenas 500 palavras distintas. Veja que aqui estou reduzindo bastante o número de palavras possíveis, na prática esse número é muito maior.

nrow <- 1e6
ncol <- 500
x <- matrix(sample(c(0,1), size = nrow*ncol, replace = TRUE,prob = c(0.99, 0.1)), nrow = nrow, ncol = ncol)

Se você tiver um computador com bastante RAM, talvez consiga rodar isso, mas provavelmente você terá um erro do tipo Error: cannot allocate vector of size 74.5 Gb.

De fato, essa matriz ocupa bastante memória:

pryr::object_size(x)
#> 4 GB

Será que existe uma forma mais eficiente de representar essa matriz na memória do computador? A resposta é sim! E no R vamos usar o pacote Matrix.

Existem diversas formas de transformar a matriz x em uma matriz esparsa, a forma mais simples é:

library(Matrix)
x_s <- Matrix(x)
pryr::object_size(x_s)
#> 550 MB

Ou seja, a matriz esparsa ocupa quase 1/8 menos memória do que a matriz densa. A maioria dos métodos para matrizes no R estão também implementados para matrizes esparsas. Isso quer dizer que você pode fazer x*y, x+y, x/y, x%*%y, x[1,1], etc. como se fossem matrizes normais. Na prática o pacote Matrix representa as matrizes esparsas internamente de uma forma muito mais inteligente, sem gastar memória com os valores nulos.

Uma outra grande vantagem é que muitos pacotes possuem implementações mais eficientes (tanto em tempo de execução quanto em memória utilizada) para matrizes esparsas, por exemplo o glmnet muito usado para fazer regressão do tipo LASSO. O recommenderlab que implementa alguns algoritmos de recomendação também é inteiramente baseado em matrizes esparsas. O pacote text2vec que implementa algoritmos como GloVe também usa muito esse tipo de matrizes.

Vale lembrar que na maioria das vezes você possui uma base transacional que precisa ser representada como uma matriz. Algo mais ou menos assim:

bd <- data.frame(
  cliente = c(1,1,1,2,2,3,3,4,5,6,7,7,8,8,8,8,9,9,9,9),
  itens = sample(1:50, 20)
  )
cliente itens
1 17
1 30
1 7
2 14
2 42
3 49
3 4
4 24
5 16
6 10
7 9
7 41
8 6
8 47
8 38
8 21
9 37
9 35
9 11
9 31

Nesse caso, faz mais sentido criar a matriz esparsa usando a função sparseMatrix. Assim, você só especifica as coordenadas da matriz que têm algum 1.

library(Matrix)
sparseMatrix(bd$cliente, bd$itens)
## 9 x 49 sparse Matrix of class "ngCMatrix"
##                                                                                
##  [1,] . . . . . . | . . . . . . . . . | . . . . . . . . . . . . | . . . . . . .
##  [2,] . . . . . . . . . . . . . | . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
##  [3,] . . . | . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
##  [4,] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | . . . . . . . . . . . . .
##  [5,] . . . . . . . . . . . . . . . | . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
##  [6,] . . . . . . . . . | . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
##  [7,] . . . . . . . . | . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
##  [8,] . . . . . | . . . . . . . . . . . . . . | . . . . . . . . . . . . . . . .
##  [9,] . . . . . . . . . . | . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | . . . | . |
##                              
##  [1,] . . . . . . . . . . . .
##  [2,] . . . . | . . . . . . .
##  [3,] . . . . . . . . . . . |
##  [4,] . . . . . . . . . . . .
##  [5,] . . . . . . . . . . . .
##  [6,] . . . . . . . . . . . .
##  [7,] . . . | . . . . . . . .
##  [8,] | . . . . . . . . | . .
##  [9,] . . . . . . . . . . . .

Outra função importante é a sparse.model.matrix. Ela é equivalente à função model.matrix mas cria uma matriz de modelo esparsa o que pode ser útil quando você tem um fator que possui muitos níveis no seu modelo. A vignette Sparse Model Matrices fala sobre isso.

Também é possível programar em Rcpp usando matrizes esparsas usando o RcppArmadillo, veja esse exemplo para mais detalhes.

Para saber mais leia as vignettes do pacote Matrix. Em especial, vale a pena ler as seguintes 2nd Introduction to the Matrix Package.

PS: a inspiração para esse texto foi esse post de 2011 do John Myles White

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