Escolher uma profissão, para quem tem esse privilégio, é uma das decisões mais importantes das nossas vidas. Aos 17, 18 anos, a imaturidade, o pouco auto-conhecimento e a falta de informação sobre as alternativas podem nos desviar da opção que nos vestiria melhor, um erro que muitas vezes nunca será reparado.
Às vezes, eu me pergunto o que levou amigos e conhecido a escolherem suas profissões na hora do vestibular. No meu caso, eu quase segui um caminho da “profissões da moda”. O que me impediu de prestar Administração foi descobrir, na hora da inscrição, que era uma carreira da área de Humanas, não Exatas.
Sim, eu era bem perdido.
Na época, a segunda fase da FUVEST era diferente para cada área, e eu não tinha perspectiva nenhuma de ir bem se tivesse que fazer uma prova dissertativa de História e Geografia em vez de Matemática e Física, disciplinas que eu dominava muito mais. Por isso, após uma (muito breve) pesquisa na internet, fui convencido a prestar Estatística, e o que me convenceu foi a frase “[…] envolve bastante matemática e o mercado de trabalho é muito bom”. Foi baseado nisso que eu tomei uma das decisões mais importantes da minha vida e era basicamente tudo o que eu sabia sobre a carreira quando comecei a graduação.
Prestar vestibular para Estatística foi um tiro no escuro tão certeiro que às vezes me pego pensando em destino e esoterismos desse tipo. Durante a graduação, conheci pessoas que não tiveram a mesma sorte e acabaram desistindo nos primeiros semestres, que são bem pesados na matemática. A primeira parte da informação que eu tinha sobre realmente estava certa, e o curso de Estatística pode assustar quem não estiver na pegada de provar vários teoremas. Mas, neste post, não quero falar sobre as dificuldades da escalada, mas sim sobre a vista ao se chegar ao topo.
Conforme fui conhecendo a Estatística, eu descobri que ela é a profissão mais nerd que existe1. Eu sustento essa opinião porque a melhor definição de nerd que já escutei é “pessoa ama aprender” e, graças à Estatística, tenho a oportunidade de estudar muita coisa diferente.
Nesses dez anos como estatístico, já fiz análises na área de engenharia, finanças, educação, jornalismo, zoologia, farmácia, fisioterapia, medicina, psicologia, odontologia, educação física… e essas são apenas as que eu lembrei de cabeça. Estatística é parte essencial do método científico e está presente em todas as ciências. Pegar trabalhos novos para um estatístico nerd é extremamente motivante, porque não é apenas uma troca de tempo por dinheiro, é uma ótima chance para aprender coisas novas. A Estatística te estimula a ser curioso e criativo, e isso é o que eu mais amo nela.
Outra coisa para se amar é o mercado de trabalho.
A segunda parte da informação que eu tinha também estava correta: o mercado de trabalho para o estatístico é excelente! Não só pelo número de oportunidades, mas pela gama de lugares diferentes onde somos necessários. Não vou listar aqui porque é praticamente qualquer área. E sobre salários, como diria um professor do IME, dá para alimentar famílias.
Apesar de ter sido um dos poucos dos meus colegas a não mergulhar de cabeça no mercado, já tive duas experiências. A primeira foi como estagiário em um banco, onde aprendi bastante sobre o que eu não queria fazer na vida. Tudo o que eu fazia era rodar modelos pré-estabelecidos para gerar relatórios pré-formatados. Tinha aprendido tanta coisa legal na graduação e não podia usar nada, o que me fazia sentir como um pássaro engaiolado.
A segunda foi no Instituto Butantan, onde eu era o único estatístico ao lado de vários biólogos, farmacêuticos e veterinários. Foi uma ótima experiência, na qual conheci muita gente bacana e aprendi muita coisa de biologia, farmâcia e controle de qualidade. Trabalhar com pessoas diferentes de você, com outras formas de pensar, é outra parte legal de ser estatístico. O pessoal do Butantan me ensinou bastante, principalmente sobre como a ciência e a pesquisa funcionam na prática. Além disso, foi lá que nasceu o meu interesse em ensinar Estatística.
Bom, essa foi uma parte da história de como eu me apaixonei pela Estatística. Talvez eu não tenha acrescentado nada se você já compartilha desse sentimento, mas espero que esse texto chegue a pessoas que ainda estejam escolhendo sua profissão e jogue luz sobre essa alternativa. Essa é a hora de mudarmos gráficos como esse.
Resumindo:
- Estatística é a profissão para quem gosta de aprender.
- Um bom estatístico no mercado é uma criança com cartão de crédito numa loja de brinquedos.
No próximo post desta série, vou levantar um pouco de polêmica desabafando sobre alguns preconceitos de aprendizagem. Até breve!
Se você ainda vê alguma conotação negativa na palavra nerd, mande as minha lembranças aos anos 90. :D↩︎